Apresentação
Em 12 anos de existência o Festival Visões Periféricas se consolidou como projeto único e inovador de difusão audiovisual no país, formação de rede e discussão do conceito de periferia por meio de uma curadoria atenta à diversidade de temas e expressões estéticas. Este olhar segue presente na composição de filmes e mostras deste ano. A novidade é que a Mostra Panorâmica, de médias e longas, passa a ser competitiva. Apostamos, com isso, em um formato que ganha cada vez mais espaço entre a geração de realizadores que o Visões ajudou a projetar. É também um movimento que acompanha uma outra ação inédita, a criação do Visões Lab, uma plataforma de fortalecimento do setor audiovisual composta por ações de formação, articulação, inovação e desenvolvimento do mercado. O diferencial e ineditismo em relação a outras ações semelhantes é que essa plataforma irá criar um ambiente com potencial de gerar negócios entre players e projetos de audiovisual comprometidos com a inserção de jovens realizadores de periferia no mercado e a ampliação do espectro de visões sobre as periferias brasileiras.
Embora o Visões Periféricas tenha consolidado um lugar de importância no cenário de festivais, identificamos que existia uma dificuldade para que esses jovens se inserissem profissionalmente no mercado audiovisual, mesmo com o crescimento do setor de 9% ao ano. Apenas para ficar na questão de gênero e raça, um levantamento da Ancine com base em 142 longas lançados comercialmente em 2016 mostrou que a participação de mulheres e negros na direção de filmes foi muito pequena: 19,6% de mulheres brancas e 2,1% de homens negros. Não houve um filme sequer dirigido por mulher negra. Diante da expressiva participação de diretores negros no Festival Visões Periféricas, em especial mulheres, é razoável conjecturar que essa baixa participação no mercado não se dê apenas pela ausência de critérios inclusivos nos mecanismos de financiamento do setor mas principalmente porque o segmento de realizadores que o Visões Periféricas representa sequer chega a pleitear as linhas de financiamento desses mecanismos.
Hoje uma geração de realizadores encontra um cenário de mercado mais estruturado. É nesse ponto que o Visões Periféricas quer atuar, estabelecendo pontes para que o realizador de periferia vislumbre um horizonte em que possa viver do seu trabalho e energia criativa. Além dele, quem sai ganhando é o audiovisual brasileiro que passa a contar com a oxigenação e diversidade estética que essa inserção pode trazer. Basta apenas que sejam construídas as conexões necessárias. Com o Visões Lab temos a certeza que é possível gerar esse impacto na cadeia produtiva do país.
Marcio Blanco
Idealizador e coordenador geral Visões Periféricas