Curadoria

Marcio Blanco

Coordenador geral e curador do Festival Visões Periféricas. Professor do curso de Audiovisual da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Doutor e mestre em Comunicação na linha de Tecnologias de Comunicação e Cultura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Graduado em Cinema pela Universidade Federal Fluminense, tendo atuado como professor substituto no curso (2015-2017). Desenvolve pesquisas e projetos na interface entre cinema e educação com foco na produção audiovisual nas escolas e periferias. Tem experiência com realização de obras para televisão e cinema. 

Mostra Cinema da Gema

Filmes de até 30 minutos produzidos no Estado do Rio de Janeiro.

A mostra Cinema da Gema traz experiências vívidas e particulares, mas que alcançam o todo da sociedade pela força de suas questões propostas. Na Sessão Heranças, as construções imbricadas nos indivíduos e suas relações com o outro são subvertidas na busca e reivindicação das raízes históricas e culturais, nos sonhos particulares, nos legados elucidados através do tempo. Já os mundos dos que são postos à margem ou presos em preceitos transbordam em suas existência particulares, com complexidades e desejos, sonhos e perspectivas; transformar esses simples preceitos em verdadeiros mundos é o que norteia a Sessão Cosmos. Os 8 filmes selecionados trazem a potência de narrativas nascidas no Rio de Janeiro, de vivências particulares de cada uma de suas regiões, que transbordam para além do estado, tecendo relações com outras realidades brasileiras, com outras ideias de mundo possíveis.

Mostra Visorama

Filmes de até 15 minutos produzidos em projetos de formação audiovisual no ensino básico, médio e/ou projetos do terceiro setor.

O encontro do cinema com o olhar pueril de uma criança; do sábio com aqueles que esbanjam energia de sobra para superá-lo. Nessa mostra, visite algumas das principais produções realizadas no Brasil em oficinas públicas, em sua maior parte realizadas em escolas, e (re)descubra um pouco da paixão que acomete nossos meninos e meninas pelo poder de contar histórias através de imagens em movimento e sons. Na busca por contemplar um pouco desses encontros de histórias pessoais e sonhos vistos em cada REC de câmera dado por essas crianças, a Visorama deste ano apresenta 18 filmes dos mais diversos estilos, gêneros e visões. Um singelo aceno aos nossos cineastas do futuro, já grandes pelo dever que suas primeiras produções trouxeram, em sua essência mais pura. É como certa vez escreveu o crítico e diretor de cinema Jean-Luc Godard em sua Carta "Aos meus amigos para aprendermos a fazer cinema juntos", publicada em 1967:

Eu brinco
Você brinca
Nós brincamos
De cinema
Você acredita que existe
Uma regra do jogo
Mas ela não existe
E você acredita então que não existe
Quando existe verdadeiramente
Uma regra do jogo
Porque você é uma criança
Que não sabe ainda
Que é um jogo e que é
Reservado aos adultos
Dos quais você já faz parte
Porque você esqueceu
Que é uma brincadeira de crianças
Em que ela consiste
Em várias definições
Eis aqui duas ou três
Olhar-se
No espelho dos outros
Esquecer e saber
Rápida e lentamente
O mundo em si mesmo
Pensar e falar
Brincadeira engraçada
É a vida.

Lukas

Estudante de Cinema e Audiovisual pela UFMS, participei da curadoria do festival universitário DESVER edição 2021, e na organização da oficina de Cinemas Indígenas da ASCURI em 2022. Curador da mostra Visorama do festival Visões Periféricas edição de 2022, participando também da curadoria para a edição 2023 das mostras Visorama e Cinema da Gema.

Marco Antônio Bonatelli

Bacharel em Audiovisual pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e Mestrando em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense. Trabalhou como presidente das comunicações e crítico no festival de cinema universitário Desver 2021 e 2022 durante a graduação, bem como integrou o Laboratório de Estudos do Horror e da Violência na Cultura nesse período. Também esteve na organização do projeto Oficinas de Animação nas Escolas, em parceria com o Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, realizado em 2022.

Mostra Fronteiras Imaginárias

Filmes de até 30 minutos produzidos por realizadores independentes de todo o Brasil.

Sessão Resiliência e Devires: Projetos de Mundo

Na primeira sessão da Mostra Fronteiras Imaginárias, quatro histórias sobre resiliência e devires de mundos possíveis. Todas elas, de alguma forma, traçam suas rotas de fuga, seus projetos de mundo, por meio da educação, formal ou não-formal. Em Porto Alegre ou no Interior de Mato Grosso, a escola, embora palco de violências étnico-raciais e de gênero, é também o lugar onde nossos protagonistas escolhem permanecer e enfrentar, estar e resistir. Em uma penitenciária em Goiás, um projeto social ensina bordado como uma possibilidade de ressocialização; em Pernambuco, um projeto social ensina surf como alternativa à falta de acesso a direitos e ao bem viver. Em São Paulo, uma artista sul-africana, que pratica e ensina dança como afirmação de sua identidade e experiência de decolonialidade, luta pelo direito de permanecer no Brasil.

Sessão Direito à Memória: O Corpo como Documento

"(...) a memória são conteúdos de um continente, da sua vida, da sua história, do seu passado. Como se o corpo fosse o documento” (Beatriz Nascimento). O direito à memória é tema da segunda sessão da Mostra Fronteiras Imaginárias. Em Nossos passos seguirão os seus (2022), Nunca me perguntaram nada (2022) e Mestre Kenura: a roda é o universo (2021), três narrativas sobre o apagamento de pessoas negras que afirmam uma identidade ancestral, seja no âmbito da coletividade ou familiar. Essas memórias, no entanto, são lembradas pelos que, hoje, seguem seus passos. Em Fábrica de palavras (2022), uma narrativa em ficção tematiza a memória por meio de lembranças da infância, regadas de afeto, por uma artista em processo criativo. Em Tá fazendo sabão (2022), a memória da infância também aparece na narrativa da diretora e protagonista, em primeira pessoa, conectando as mulheres fortes de sua vida à construção de sua identidade étnico-racial e de gênero e à afirmação do amor entre mulheres, de tantas formas possíveis.

Sessão Olhares de Brasis: A Favela, O Sertão, O Folclore e a Mata

Na terceira sessão da Mostra Fronteiras Imaginárias, quatro “Brasis” imaginados nas representações de realizadores de quatro das cinco regiões brasileiras: Sudeste, Nordeste, Sul e Norte. A favela, o sertão, o carnaval contemporâneo como rito folclórico moderno e a mata são cenário e personagem de quatro narrativas ficcionais, uma delas narrada em LIBRAS, a Língua Brasileira de Sinais.

Sessão Corpos Dissidentes em suas Relações com o Território

Corpos dissidentes em suas relações com o território é o tema da quarta e última sessão da Mostra Fronteiras Imaginárias. Em JAMEX como uma ideia (2022), JAMEX, um artista soteropolitano negro, constrói sua subjetividade por meio da pintura; em A Última transmissão (2022), o jornalista Brasil de Oliveira afirma sua identidade como homem gay num ambiente machista como o do radialismo e do futebol dos anos 90; em Nosso morro, meu universo (2022), o dançarino e multiartista Bhrendo Barbosa aborda a dança a partir de sua relação com sua comunidade na periferia de Recife; em Da ponte pra cá (2022), o desafio de fazer cinema independente na periferia de São Paulo a partir da experiência de três coletivos de produção audiovisual que pautam o território como lugar de afirmação política; Masisi Wouj desloca nosso olhar até Porto Príncipe, no Haiti, para resignificar, por meio das performances do artista e ativista Sanba Yonel, a palavra masisi, usada como xingamento para se referir a homens considerados femininos, gays, travestis e pessoas não-binárias.

Mostra Itaú Cultural Play

Filmes disponíveis gratuita e exclusivamente no streaming do Itaú Cultural Play

Não há memória fora do corpo

Nesta sessão do 16º Festival Visões Periféricas, uma miscelânea de olhares dá contornos a narrativas sobre grupos e povos silenciados, sobre os muitos modos como transformam seus lugares e protagonizam as próprias histórias. Em uma costura invisível, filmes conversam com outros filmes e nos levam para dentro de outros mundos possíveis, de chegadas que falam mais sobre partidas, de recomeços, travessias e despedidas. Território é memória e corpo é documento. Em Hermanos, aqui estamos (2021), a questão social que afeta a vida de mulheres e meninas imigrantes da Venezuela para Cuiabá (MT). Em Mutirão, o filme (2022), o olhar da criança fabula  memórias sobre o território. Em Capitão Tocha (2022), o olhar da criança que fabula é potencializado pelas novas possibilidades que a representatividade desperta. Em ambos, o imaginário infantil é nutrido pela autoconfiança e pelo sentimento de auto referenciação, protagonismo e pertença. Nunca pare na pista (2021) é uma ficção autobiográfica sobre sonhos em vários mundos possíveis. Uma ficção dentro de outra ficção, uma história dentro de outra história, como em Quebra panela (2021). Em Cidade entre rios (2021), é a partir do território que um jovem busca resgatar memórias esmaecidas no tempo. Por fim, em A Velhice Ilumina o Vento (2022), a experiência da velhice nos relatos de uma trabalhadora doméstica negra e periférica, de Cuiabá, D. Valda.

José Marques de Carvalho Jr

José Marques de Carvalho Jr. começou a produzir vídeos cômicos para a Internet em 2005. Sua carreira no cinema começou em 2015, quando dirigiu seu primeiro curta, "Coração de Mãe". Em 2016 concluiu seu primeiro longa-metragem, "Observar e Absorver". Em 2018, dirigiu o longa "Idioma Desconhecido". Em 2021, dirigiu "O Sonho do Inútil", ganhando o prêmio de melhor direção no 9º Torino Cinefest, e Menção Honrosa da Associação Brasileira de Críticos de Cinema – Abraccine no 10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.

Quézia Lopes

Quézia Lopes é cineasta, arte-educadora e pesquisadora em cinema negro curta-metragista contemporâneo. Diretora, roteirista e produtora/produtora executiva. Fez assistência de produção executiva nos longas-metragens em documentário “Entre nós, um segredo” (Encantamento Filmes e Vitrine Filmes, 2020), disponível na MUBI, e “Ioiô de Iaiá” (Encantamento Filmes e Elo Company, 2020), disponível na Globoplay. Para 2023, prepara o documentário transmídia “Corpos Invisíveis”, seu primeiro longa como roteirista e diretora, no qual também assina a produção executiva, com patrocínio da Coca-cola Brasil, Instituto Coca-cola e Fundo Baobá.

Visões Lab

Laboratório de desenvolvimento de projetos audiovisuais 

O festival Visões Periféricas, por sua natureza, consegue captar projetos que desviam de um aparente centro geográfico, seja por personagens em constantes deslocamentos ou dispersões estéticas que escapam da gagueira dos discursos hegemônicos e dominantes. Curiosamente, é a relação entre os contrários que parece resumir bem os projetos selecionados (característica que acompanha também a grande maioria dos inscritos). As narrativas parecem ir além do binômio entre centro e periferia, operando por regimes de forças entre os territórios e as excentricidades das subjetividades. Destaque aos projetos em que a periferia se apresenta não só como potência, mas como linhas de fuga para modos de existência em nossa sociedade. Não é de se espantar o fato de que os projetos do festival deste ano retratam um Brasil inquietante. Esta visão surge a efeito do trauma catastrófico da pandemia, mas vertido pelo sintoma do mal-estar dos regimes políticos que ampliaram a desigualdade social e impactaram no desdém dos direitos humanos nos últimos anos. Neste sentido, sublinham-se narrativas que retratam a realidade brasileira na crueza da vulnerabilidade, das manifestações cáusticas sob certas tentativas da anulação do outro e do diferente nas mais diversas formas de violência. Há, também, lugar para as precipitações do sensível com personagens que insistem, persistem e resistem em habitar e transformar seus espaços.

Régis Rasia

Doutor em Multimeios pela UNICAMP. Professor do Bacharelado em Audiovisual da UFMS.